Publicado originalmente no Terra.com
Aos 63 anos, Maria do Carmo já havia abandonado os livros de chamada, o giz e as apostilas. Por conta da aposentadoria, não precisaria mais dar aulas em uma escola na cidade de Bezerros, em Pernambuco. Finalmente poderia descansar. Foi então que recebeu um convite para participar de um curso de formação de Promotores de Leitura e Auxiliar de Biblioteca. A ideia era montar um espaço comunitário de empréstimo de livros.
Resolveu voltar à ativa. “Eu deveria estar na cadeira de balanço, mas não consigo”, brinca. Hoje, coordena a iniciativa em sua cidade e comemora: “Trouxemos a comunidade aqui para dentro. A mudança é perceptível. Todo mundo quer ler”, diz. A Biblioteca Comunitária Ler É Preciso, de Bezerros, é uma das mais de 90 criadas com o apoio do Instituto Ecofuturo – fundado em 1999 e qualificado como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) – em parceria com instituições privadas e poder público. Com o objetivo de ampliar o número de bibliotecas no Brasil, a organização criou a campanha permanente Eu quero minha biblioteca. A iniciativa busca reforçar a Lei 12.244/10, que prevê que, até 2020, todas as instituições de ensino do País, públicas e privadas, tenham um espaço de leitura.
O desafio é enorme: de acordo com estudo realizado em 2010 pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), para que a proposta seja atendida, 24 bibliotecas deveriam ser construídas diariamente. “Esse número é de 2010. Hoje, deve ser maior. O que nós precisamos é compreender o tempo necessário para as práticas públicas, que costumam ser mais demoradas, principalmente quando envolvem editais. A partir disso, será possível agir com mais eficácia. Nós acreditamos que, se unirmos a iniciativa privada e pública e traçarmos planos para 2020 será possível atingir a meta. O que não pode acontecer é atuarmos de forma isolada”, diz a coordenadora de Educação e Cultura do Ecofuturo, Christine Fontelles. Mesmo com as dificuldades, Christine acredita em bons resultados. “Se fizermos um mutirão cuidadoso, bem feito, com bom planejamento estratégico, é possível.
Com controle social, revisão de prazos governamentais e ações conjuntas, vamos fazer com que todas as instituições de ensino tenham bibliotecas”, diz. A movimentação começou com a abertura de espaços em locais cedidos pela comunidade ou pela prefeitura. Em 2004, acompanhando o que viria a ser proposto pela lei, migrou para dentro das escolas. A ideia é buscar forças nas prefeituras – que cedem espaços e realizam melhorias em locais já existentes – e em empresas interessadas – que normalmente ficam responsáveis por ceder o acervo inicial, de cerca de mil exemplares. Desses, 70% fazem parte de um catálogo montado previamente. O restante é escolhido a partir das demandas da comunidade. Prefeituras são encarregadas de manter espaço